Esta entrada aborda a consolidação do conceito de “indesejável” no período entreguerras e a forma como Portugal se inseriu nesta lógica, particularmente em voga na Europa, classificando dessa forma quem considerava suspeito e representativo de uma ameaça política e social.
O Instituto Bacteriológico Câmara Pestana (IBCP) foi fundado em Lisboa em 1892, no quadro de um movimento europeu de afirmação dos laboratórios como instituições centrais da produção científica. Com a identificação de bactérias como agentes patológicos, na transição do século XIX para o século XX, os microscópios passaram a ser instrumentos fundamentais nas práticas biomédicas. O IBCP, as redes internacionais em que se inseriu e as ligações que ajudou a criar são um excelente exemplo do impacto da revolução bacteriológica nas áreas da saúde e medicina em Portugal.
O jardim do Príncipe Real era um dos endereços mais exclusivos de Lisboa na década de 1880. Nos palacetes construídos à volta do jardim moravam vários grandes “empresários” portugueses. Este texto discute as histórias que se escondem por detrás desses edifícios e dos seus proprietários, das quais fazem parte indústrias e bancos portugueses, mas também escravos africanos, borracha da amazónia, imaginários urbanos parisienses e cultura arquitectónica italiana.
A trajetória intelectual do historiador João Lúcio de Azevedo (1855-1933) – incluindo a memorialística que continua até os dias de hoje, quase 100 anos após seu falecimento – é marcada por constantes conexões transnacionais. As trocas que Azevedo estabeleceu com intelectuais portugueses, brasileiros e de outras origens fizeram dele um elemento ímpar de articulação e promoção da produção do conhecimento histórico nas primeiras décadas do século XX, especialmente no Brasil e em Portugal. Nesse sentido, merece destaque a dimensão pragmática e material de sua atuação, que facilitava a circulação de livros e documentos entre os dois países – um aspecto decisivo para que as pesquisas históricas fossem possíveis naquele contexto. Contudo, mais importante do ponto de vista epistemológico, foi a elaboração e o desenvolvimento da "teoria dos ciclos", iniciada pelo historiador e continuada por diversos intelectuais subsequentes, pautando o pensamento econômico brasileiro do século XX.
No ano de 1936, o foneticista português Armando de Lacerda (1902-1984) criou na Universidade de Coimbra o Laboratório de Fonética Experimental. Equipado com modernos cromógrafos e aplicando métodos inovadores para a análise dos sons da linguagem, este espaço chegou a ser considerado por diversos membros da comunidade internacional como o mais avançado laboratório de Fonética Experimental da Europa. O estudo científico da fala humana desenvolvido por Lacerda atraiu ao longo de décadas investigadores dos quatro cantos do mundo, transformando o seu laboratório num dos centros da ciência fonética a nível global.