Vista como uma idade de trevas, violência e superstição ou, alternativamente, de civilização e valores cavalheirescos e comunitários, o período histórico habitualmente designado como “Idade Média” exerce desde há muitos séculos um fascínio enorme, que se perpetua até hoje e se estendeu às mais diferentes geografias. A história dos medievalismos em Portugal está indelevelmente ligada a acontecimentos políticos, transformações socioeconómicas e correntes culturais que marcaram outros países ao longo da época contemporânea.
Esta entrada procura situar a descolonização portuguesa face a processos análogos noutras formações imperiais europeias no século XX. Fá-lo numa perspetiva diacrónica, explorando quatro subdivisões temporais: 1919-1945 (os impactos das duas guerras mundiais); 1945-61 (as tentativas de relegitimação do colonialismo através do «desenvolvimento»); 1961-74 (a intensificação das pressões para a descolonização); e 1974-75 (o fim do império e as suas sequelas). A entrada procura salientar exemplos de influências transnacionais e matizar noções de uma singularidade portuguesa em todo este processo histórico.
Concebida para contribuir para ‘as relações culturais e o intercâmbio intelectual entre Portugal e França’, a Casa dos Estudantes Portugueses na Cidade Internacional Universitária de Paris foi inaugurada em 1967. A sua história ilustra as contradições da internacionalização da investigação científica portuguesa e da circulação transnacional de estudantes já desde as primeiras décadas do século XX. No contexto do ‘Maio de 68’, a Casa foi palco de um conjunto de convulsões que causaram profunda consternação junto das autoridades do Estado Novo.
Após a Revolução Portuguesa de 25 de Abril de 1974, Timor-Leste enfrentou um longo e turbulento processo de autodeterminação, que incluiu duas proclamações de independência. No início, ao longo de ano e meio, houve uma tentativa de garantir uma autodeterminação “exemplar”, que foi interrompida pela erupção de uma breve e sangrenta guerra civil, com a proclamação unilateral da independência e com a invasão militar indonésia. Seguiu-se, ao longo de 24 anos, o domínio neocolonial de Jacarta, alvo de intensa contestação popular, até que um referendo conduzido sob os auspícios da ONU ditou a recusa de um estatuto de autonomia no quadro da soberania indonésia, abrindo as portas à chamada “restauração” da independência, proclamada a 20 de Maio de 2002, no termo de um período de administração direta pelas Nações Unidas. Esta entrada debruça-se sobre a primeira proclamação.
Após uma primeira proclamação ainda na década de 1970, e depois de sofrer o domínio neocolonial de Jacarta ao longo de 24 anos, Timor-Leste viria por fim a conquistar a sua independência a 20 de Maio de 2002, no termo de um período de administração directa pelas Nações Unidas e de um processo de solidariedade internacional de que participaram, entre outros, diferentes actores portugueses.
O Acordo de Alvor, assinado em janeiro de 1975 entre o governo português e os principais movimentos de libertação de Angola, marcou o início formal do processo de descolonização do país. Este acordo representou uma solução negociada singular no contexto das independências das colónias do império português, ao prever a realização de eleições para uma Assembleia Nacional em Angola, que, contudo, nunca chegaram a realizar-se.
Depois da Revolução Russa de Outubro de 1917 nasceram Partidos Comunistas em várias partes do mundo. O Partido Comunista Português (PCP) foi criado em 1921, com uma forte marca originária anarquista, o que o diferenciou da maioria dos países europeus. Contudo, esta marca originária não foi caso único e as ligações com militantes anarquistas espanhóis foram igualmente relevantes nos anos da fundação do PCP.
As agências de passagens e passaporte foram agentes intermediários privilegiados no estímulo às migrações portuguesas contemporâneas transatlânticas. Nesta entrada podemos compreender os seus perfis socioprofissionais e, a partir de Portugal, o seu modus operandi realizado a partir das suas conexões transnacionais.
O Centro de Estudos Africanos foi um espaço de encontro, debate e reflexão sobre a África, onde os participantes partilhavam leituras e conhecimentos para se reapropriarem da sua história e cultura, num processo de "reafricanização dos espíritos". Foi fundado clandestinamente em Lisboa em 1951 por um grupo de estudantes provenientes de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, muitos dos quais se tornariam líderes dos futuros movimentos de libertação nacional. O Centro funcionou em regime de seminário até 1953, ano em que teve de encerrar as suas atividades.
O Acordo Cultural Luso-Brasileiro foi assinado no Rio Janeiro em 4 de setembro de 1941, representando um selo simbólico da cooperação cultural entre os “Estados Novos” do varguismo e do salazarismo. Inscrito numa política pan-lusitanista e constituindo o quadro jurídico-diplomático para a instituição da Secção do Intercâmbio Luso-brasileiro no Secretariado da Propaganda Nacional em Lisboa, este acordo é uma das manifestações institucionais de estratégias políticas relacionadas com o lastro histórico e cultural então empreendidas pelos dois regimes.
A colonização interna foi um conjunto de ideias, políticas e técnicas que visaram promover conjugadamente a agricultura e a ocupação humana de regiões consideradas desertas ou pouco produtivas de Portugal, em particular os baldios e os “incultos” dos latifúndios do Sul. Durante o Estado Novo, e especialmente durante a década de 1950, o projecto colonizador foi desenvolvido em articulação internacional, nomeadamente com a Espanha franquista e a democracia cristã italiana.
Pouco depois do fim da II Guerra Mundial, a ditadura do Estado Novo proibiu qualquer intervenção privada na organização da saída de pessoas do país, ao mesmo tempo que implementou um processo de seleção de emigrantes burocrático e moroso. A fuga clandestina tornou-se então a opção mais procurada, tendo sido desenvolvidas várias estratégias e redes informais para acompanhar e orientar o candidato à emigração desde a saída até aos diversos destinos, nomeadamente França.
D. Maria Constança da Câmara (1801-1860), sétima marquesa de Fronteira por casamento, foi uma aristocrata portuguesa de percurso biográfico praticamente desconhecido até à recente publicação do seu diário. Antes disso, as poucas referências existentes reportavam-se às memórias do seu marido e à biografia laudatória publicada após a sua morte. Filha, irmã e mulher de aderentes à causa liberal, tais laços familiares levaram-na a emigrar, nas décadas de 1820 e início de 1830, para diversos reinos europeus, permitindo-lhe o contacto com diferentes nações, culturas, aristocracias e artistas, o que lhe deu uma dimensão transnacional, comum a outros portugueses emigrados neste período.