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Matias Tomé Upinde
Antigo combatente da luta armada de libertação de Moçambique, Matias Tomé Upinde (1945-2024) é uma figura quase desconhecida, tanto em Moçambique como em Portugal. No entanto, enquanto Comandante de Batalhão das Forças Internacionalistas de Moçambique no Zimbabué (1978-1980), a sua história de vida, narrada pelo próprio, em 2023, durante uma visita ao Monumento e Centro de Interpretação da Matola, no âmbito da Conferência Internacional “Samora Machel e a África Austral”, convida-nos a repensar o lugar da República Popular de Moçambique enquanto “Estado da Linha da Frente” na região da África Austral, cruzando a resistência ao colonialismo português, o combate ao regime de minoria branca da Rodésia do Sul e a luta contra o apartheid na África do Sul. -
Acordo Cultural Luso-Brasileiro de 1941
O Acordo Cultural Luso-Brasileiro foi assinado no Rio Janeiro em 4 de setembro de 1941, representando um selo simbólico da cooperação cultural entre os “Estados Novos” do varguismo e do salazarismo. Inscrito numa política pan-lusitanista e constituindo o quadro jurídico-diplomático para a instituição da Secção do Intercâmbio Luso-brasileiro no Secretariado da Propaganda Nacional em Lisboa, este acordo é uma das manifestações institucionais de estratégias políticas relacionadas com o lastro histórico e cultural então empreendidas pelos dois regimes. -
Retornados
A seguir à Revolução dos Cravos, Portugal viu-se confrontado com o retorno dos seus colonos de Angola e Moçambique. A chegada de cerca de meio milhão de retornados durante o PREC representou um desafio suplementar para as autoridades. Como em França na década anterior, que teve de acolher os pieds-noirs da Argélia, os diferentes governos que se sucederam tiveram de implementar um conjunto de medidas visando a integração desta população. -
Contrabando humano
Pouco depois do fim da II Guerra Mundial, a ditadura do Estado Novo proibiu qualquer intervenção privada na organização da saída de pessoas do país, ao mesmo tempo que implementou um processo de seleção de emigrantes burocrático e moroso. A fuga clandestina tornou-se então a opção mais procurada, tendo sido desenvolvidas várias estratégias e redes informais para acompanhar e orientar o candidato à emigração desde a saída até aos diversos destinos, nomeadamente França. -
Abolição da pena de morte
O abolicionismo foi sendo moldado pelo movimento liberal que, a partir de finais do séc. XVIII, cruzou as fronteiras dos países ocidentais e das suas colónias como um patamar de civilização firmado sobre os direitos individuais e universais da pessoa humana. Seguiu processos semelhantes ao longo do tempo e foi-se afirmando em fases sucessivas até hoje. Continua a ser um problema atual, embora em 2022 já existissem 148 estados abolicionistas, dando ideia de um movimento imparável no mundo contemporâneo. -
Bernardo Peres da Silva
Médico, revolucionário, deputado, exilado político e estadista, Bernardo Peres da Silva (1775-1884) é hoje praticamente desconhecido fora do círculo restrito dos especialistas na história de Goa. Durante 18 curtos dias do mês de janeiro de 1835, no entanto, Peres foi o primeiro e único goês a ter nas mãos as rédeas do governo da colónia. Ponto culminante de uma vida atribulada, que atravessou três continentes, o breve governo de Peres torna-o uma figura singular na história global do período que os historiadores convencionaram designar como a Era das Revoluções. O seu percurso como defensor do liberalismo constitucional e crítico feroz do despotismo colonial é demonstrativo das possibilidades abertas pelo terramoto político e conceptual desencadeado pelas crises e revoluções que marcaram a viragem do século XVIII para o século XIX. Mas é também revelador dos limites da emancipação política num sistema colonial. -
Trabalho doméstico
Sensivelmente desde finais do século XVIII que a chegada de camponeses à orla das cidades para trabalharem em fábricas foi acompanhada da migração de jovens camponesas à procura de trabalho doméstico. Os contornos da sua inscrição na vida privada têm sido marcados por uma grande invisibilidade, hoje igualmente notória num contexto pós-colonial, com a deslocação de trabalhadoras domésticas jovens, provenientes de países empobrecidos, para países com economias terciarizadas, do Norte Global. -
Cantigas do Maio
Participando de uma tendência internacional para a criação de realidades sonoras próprias à gravação, que assim não se limita à captação da performance dos músicos, este disco, gravado em 1971, evidenciaria o encontro de José Afonso e José Mário Branco com músicos de outros países, nomeadamente de França e do Brasil. Por sua vez, a importância simbólica que a canção Grândola, Vila Morena viria a adquirir no quadro da Revolução de Abril de 1974 levaria a várias edições internacionais do disco. -
Novos Movimentos Sociais
Durante os chamados “Longos Anos Sessenta” emergiram novos movimentos, num processo marcado por uma grande interligação transnacional e que exigiu a revisão da forma como as próprias ciências sociais entendiam o conflito. O caso português participou desse movimento mundial, ao mesmo tempo que a sua especificidade oferece um novo olhar sobre a dinâmica daqueles que ficaram também conhecidos como os “Anos Sessenta Globais”. -
Polícia
A história da polícia em Portugal participou de movimentos mais amplos de circulação de ideias, políticas, modelos e saberes, com destaque para a influência exercida por desenvolvimentos ocorridos na França e no Reino Unido. Foi também uma história feita em resposta a fenómenos transnacionais tão diversos como o aumento da circulação portuária entre as grandes cidades e a emergência dos autoritarismos de direita que, como no caso do Estado Novo, vieram atribuir à polícia a função de garante da ordem nacional, mais do que dos direitos dos cidadãos. -
Comissão de Cooperação Técnica na África ao Sul do Saara
Em 1950, Portugal aderiu à Comissão de Cooperação Técnica na África ao Sul do Saara (CCTA). No espaço português, e ao longo de cerca de uma década, a CCTA deu um novo impulso à investigação em várias especialidades científicas, em particular nas ciências sociais. No contexto desenvolvimentista do pós-guerra, a participação de Portugal na CCTA contribuiu para relegitimar o seu domínio colonial em África. No entanto, a história destas relações trans-imperiais tem um interesse que ultrapassa as dinâmicas particulares de cada estado: ela dá conta das raízes coloniais de uma parte importante das ciências sociais contemporâneas. -
Indesejáveis
Esta entrada aborda a consolidação do conceito de “indesejável” no período entreguerras e a forma como Portugal se inseriu nesta lógica, particularmente em voga na Europa, classificando dessa forma quem considerava suspeito e representativo de uma ameaça política e social. -
Centro de Estudos Africanos
O Centro de Estudos Africanos foi um espaço de encontro, debate e reflexão sobre a África, onde os participantes partilhavam leituras e conhecimentos para se reapropriarem da sua história e cultura, num processo de "reafricanização dos espíritos". Foi fundado clandestinamente em Lisboa em 1951 por um grupo de estudantes provenientes de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, muitos dos quais se tornariam líderes dos futuros movimentos de libertação nacional. O Centro funcionou em regime de seminário até 1953, ano em que teve de encerrar as suas atividades. -
João Lúcio de Azevedo
A trajetória intelectual do historiador João Lúcio de Azevedo (1855-1933) – incluindo a memorialística que continua até os dias de hoje, quase 100 anos após seu falecimento – é marcada por constantes conexões transnacionais. As trocas que Azevedo estabeleceu com intelectuais portugueses, brasileiros e de outras origens fizeram dele um elemento ímpar de articulação e promoção da produção do conhecimento histórico nas primeiras décadas do século XX, especialmente no Brasil e em Portugal. Nesse sentido, merece destaque a dimensão pragmática e material de sua atuação, que facilitava a circulação de livros e documentos entre os dois países – um aspecto decisivo para que as pesquisas históricas fossem possíveis naquele contexto. Contudo, mais importante do ponto de vista epistemológico, foi a elaboração e o desenvolvimento da "teoria dos ciclos", iniciada pelo historiador e continuada por diversos intelectuais subsequentes, pautando o pensamento econômico brasileiro do século XX.